Banho tomado, ela cheirosa, cabelinhos ainda molhados.
Só de calcinha corre para o quarto e em cima da cama tem o vestido que sua mãe escolheu para ela usar naquela tarde.
Senta no chão e com expressão de início de choro balbucia que aquela não!
Abre o guarda-roupas e escolhe a da semana passada, o vestido com laço e fita que fora na festa de aniversário da prima; mas hoje é apenas uma terça-feira e ficaremos em casa, pensa a mãe, já aflita pois este ritual está ficando rotineiro.
Cede e aquela linda mocinha, vestida com laço e fita se olha no espelho e feliz diz:
-‘Tonto! Ua!’
E aponta para a porta de saída, querendo, mais uma vez, perambular pela praça.
Qual mãe não passou por situação semelhante?
Como incentivar meu filho a se vestir?
Embora às vezes fiquemos exasperadas com o número de vezes que somos afrontadas pela péssima escolha do look, isto nada mais é que a definição da identidade de sua criança e a busca por sua independência e autonomia.
Este processo é saudável e é parte integrante do desenvolvimento pessoal e social da criança.
Geralmente acontece o inverso, ela primeiro aprende a tirar as roupas, por volta de um ano e oito meses, aproximadamente.
Quem não passou pelo gostoso episódio de ver um bebezinho correndo peladinho pela casa, fugindo das roupas quando termina o banho?
Por volta dos quatro anos já tem a sua definição do que é bonito, confortável ou adequado.
Muitas vezes insistem em peças inapropriadas para a temporada – jaqueta no calor e vestidinho no inverno. Mas ainda assim é fase de amadurecimento.
O melhor a fazer é o bom caminho do meio, lembra-se? Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
Dialogue e imponha limites; vivemos em um mundo com regras sociais e a criança deve, desde cedo, entender que todos – inclusive ela, devem se ajustar ao modelo social.
Portanto, se a escola exige uniforme vamos usá-lo; se não permite, no dia de hoje, fantasia, não vamos usá-la. Mas explique o porquê, não apenas proíba ou diga não.
Quando for possível, deixe-a escolher o look que mais lhe agrada.
Se ela for muito intransigente, defina você três opções e dê a ela a possibilidade da escolha.
Já monte os kits de maneira adequada: estando mais frio, coloque uma blusinha de manga comprida junto ao vestido, por exemplo.
E nos momentos adequados, incentive-a a vestir-se sozinha.
Os kits estão sobre a cama e ela escolheu um; ótimo.
Agora pegue as suas peças e juntas, vistam-se; peça a ela que vá se arrumando enquanto você se arruma.
Peça a ela que abotoe um botão de sua roupa e pergunte se ela consegue abotoar, sozinha, o da roupa que ela escolheu.
Comente enquanto calça um sapato que seria muito melhor se estivesse usando meias e pergunte se ela consegue colocar as delas para que, com o sapatinho dela, o visual fique muito mais bonito que o seu.
Parcerias, compartilhamentos, trocas de sugestões, ajuda mútua.
Este é um processo a ser iniciado na vestimenta das roupas de festa e estendido para a camisola ou o pijama.
Deixe o casaquinho por ultimo e antes de sair e diga a ela para ir se vestindo e observe, interferindo apenas quando for realmente necessário.
É uma sequência de atos e você perceberá que ela aprende rápido e passa a gostar de fazê-lo.
Sei que se pudéssemos faríamos tudo para elas, mas reflitamos que em breve a vida estipulará e definirá a rotina de sua criança – creche, escola, ginástica, balé, judô, inglês...
E você não estará por perto o tempo todo.
Então, incentive-a a ser autônoma, independente e quando ela evidenciar que conseguiu o feito, use sua inteligência e diga que ela merece um abraço e mantenha-a, o maior tempo possível acolhida em seu braços e próxima ao seu coração.
E prepare-se, porque em algum momento e sem que perceba o seu pequeno será totalmente independente e apesar da saudade que sentirá de vesti-lo sentirá também um enorme orgulho e a sensação de estar no caminho certo para o desenvolvimento dele!