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Desequilíbrio Emocional

Desequilíbrio Emocional
Alcione Andrade
set. 17 - 6 min de leitura
010

Esses dias eu, Joaquim e Martina estávamos voltando para casa de noite sem o Dinho, que tinha um compromisso naquele horário. Os dois já estavam cansados e eu também, mas eu havia passado o dia inteiro trabalhando fora e estava com meu “potinho de paciência” bem cheio com relação à eles. Ainda bem hehe.

Já no carro começaram os sinais dos dois de muito cansaço. “Não quero tomar banho hoje”. “Esse cinto está me machucando”...“mamá, mamá”. Tudo com voz de choro, choramingo e etc. Nada do que eu falava adiantava. Nem mesmo quando tentava contar alguma coisa do meu dia, ou perguntar do dia deles, ou mostrar alguma coisa pela janela do carro... nada funcionava. Eles estavam realmente muito cansados para conseguir sair do cansaço. Ficaram o dia inteiro brincando, já tinha dado o horário da rotina da noite e eles já estavam totalmente fora do bem estar físico e emocional que permitem uma criança se comportar das formas que nós adultos gostamos. Bom, sabendo disso eu já estava preparada para lidar com esses comportamentos até conseguir fazê-los dormir. E já fiquei mentalizando essas informações para eu não cobrar mais deles do que eles poderiam me dar de forma saudável e natural e não imposta e na marra.

Chegando em casa, o Joaquim começou a chorar que estava muito frio e que ele não queria sair do carro (detalhe que estava chovendo e o caminho da nossa garagem até a entrada do nosso prédio é descoberto). Eu peguei uma coberta que tinha no carro (Graças a Deus, ou não) enrolei nele e fui levando a Martina no colo. Mas claro que o Joaquim de mal humor não segurou a coberta direito e ela começou a arrastar no chão antes de chegarmos na parte descoberta. E eu, como uma boa adulta, não deixei isso passar hehe (podia ter feito vista grossa e depois só lidado com a coberta, mas na hora decidi comprar mais essa briga sem pensar). “Joaquim segura a coberta direito, ela está arrastando no chão e vai molhar no caminho.” “Ahhhh, eu não consigo!” E começou a choradeira forte! Eu falei: “Filho, você tem duas opções: pode segurar a coberta direito e subir com ela ou pode subir sem ela. Você decide.” É claro que ele jogou a coberta no chão e começou a berrar. Onde já se viu um adulto não perceber que a criança não está na mínima condição de pensar sensatamente e fazer uma escolha?? Kkkkk... Neste momento eu que já estava com a Martina no colo todo esse tempo, respirei, falei que ia subir com a Martina e que ele poderia vir a hora que quisesse. Atravessei a chuva com a Martina, subi até meu apartamento ao som dos berros do Joaquim lá na garagem, coloquei a Martina no sofá, arranjei um brinquedo para distraí-la e estava me sentindo até “vencedora” de conseguir me manter calma para lidar com a situação e ser um bom exemplo de equilíbrio emocional, até que ouvi alguém abrindo a janela do bloco e perguntando pro Joaquim o que estava acontecendo. Nossa, aquilo mexeu com todo meu orgulho. “O que os vizinhos devem estar pensando de mim, do Joaquim, da educação que dou pra ele e etc!”

Naquele momento me veio uma vontade enorme de descer pegar o Joaquim na marra, gritar, falar, fazer ele se sentir a pior criança do mundo por fazer aquilo, se arrepender, pedir desculpas, prometer que nunca mais ia fazer aquilo e dar um basta naquilo tudo. Sorte que tem dois lances de escadas até lá embaixo. Enquanto eu estava descendo fui retornando a minha consciência de adulto sensato... kkk.

Quando o Joaquim me viu chegando ele já foi engolindo o choro e me olhando com cara de assustado. Eu peguei ele com todo carinho sem falar nada, ele voltou a chorar, eu subi com ele pelas escadas sem falar nada e continuava com todo carinho e na subida ele experimentou berrar, se chacoalhar e quase chegando em casa se acalmar. Entrei, coloquei ele sentado no sofá devagar (mesmo querendo jogar ele lá com força ), dei um beijo nele e falei: “Filho você está realmente cansado, tudo bem. A mamãe vai dar banho na Martina agora, a hora que você se acalmar e tiver pronto você vem também tá?”

Peguei a Martina e saí rezando pra ele se acalmar logo hehe. E em poucos segundos o choro havia parado e alguns minutos depois ele estava no quarto dizendo que estava pronto.

No dia seguinte, na hora do almoço em que ele já estava super calmo e feliz conversamos sobre o acontecido e perguntei o que ele aprendeu do dia anterior. Ele disse que quando estamos muito cansados é muito difícil parar de chorar e carregar a coberta. Daí combinamos que quando for assim ele espera no carro e eu busco ele lá sem gritaria e sem chororô. Ele achou uma boa ideia e me abraçou. Este dia correu muito bem e cheio de conversas e carinhos.

Se pensarmos apenas em resolver a situação talvez um basta fosse o suficiente para mim e para ele. Talvez fosse piorar, não sei. Mas a minha forma de ensinar naquele momento era ser o adulto consciente e equilibrado que consegue entender as necessidades e limitações da criança e oferecer o suporte emocional e estrutural que ela ainda não tem. Lembremos sempre que a educação é olhando para o longo prazo e “o exemplo não é a melhor forma de ensinar, é a única.”


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